09 Dezembro 2022
Dom Daniele Libanori está em Ljubljana para esclarecer o que aconteceu na comunidade de freiras fundada por uma religiosa ligada ao sacerdote. As conclusões entregues ao Vaticano.
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por La Repubblica, 12-08-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Há duas investigações que giram em torno da figura do padre Marko Rupnik, jesuíta esloveno e mosaicista conhecido em todo o mundo, submetido a algumas "medidas cautelares" depois que surgiram acusações de abuso contra ele – que, no entanto, prescreveram – que ele teria cometido na década de 1990 contra algumas freiras de uma comunidade em Ljubljana. O caso desencadeou um debate animado até mesmo dentro da própria ordem religiosa de origem do Papa Francisco. “Nós, jesuítas, nos identificamos, com mérito e sem mérito, com as fronteiras da fé, da justiça, da caridade, do diálogo, da atenção aos pobres, da pesquisa: no entanto, hoje, com o caso Rupnik, nos apegamos à prescrição e esperamos que tudo possa parar aqui”, escreveu no Twitter o padre Gianfranco Matarazzo, ex-provincial italiano, que fala do caso Rupnik como de um tsunami.
Por sua vez, o atual provincial esloveno, Pe. Miran Zvanuta, que não é superior do padre Rupnik desde que se mudou da Eslovênia há vinte anos, afirma, ao contrário, que as notícias que surgiram nos últimos dias são "bastante infladas e com muita falsidade".
A primeira investigação
Depois que as acusações contra Rupnik apareceram na internet nos últimos dias, os jesuítas explicaram que o dicastério vaticano para a Doutrina da Fé, responsável também por processos canônicos relacionados a abusos sexuais, recebeu uma denúncia em 2021 contra o padre Rupnik “sobre sua forma de exercer o ministério”. Mas “não houve menores envolvidos”, especifica a nota assinada pelo delegado das Casas interprovinciais romanas da Companhia de Jesus, atual superior do padre Rupnik.
O inspetor, externo à ordem
O dicastério, liderado por outro jesuíta, o cardeal espanhol Luis Ladaria, "pediu à Companhia de Jesus para instaurar uma investigação preliminar sobre o caso". Os jesuítas "nomearam imediatamente um instrutor externo (um religioso de outro instituto) para a investigação", portanto não um jesuíta. “Várias pessoas foram convidadas para depor. Depois de ter estudado o resultado dessa investigação”, continua a nota, “o Dicastério para a Doutrina da Fé constatou que os fatos em questão deviam ser considerados prescritos e, por isso, encerrou o caso, no início de outubro deste ano de 2022. Durante a investigação preliminar, várias medidas cautelares foram tomadas contra o padre Rupnik", explica o comunicado: "Proibição do exercício do sacramento da confissão, da direção espiritual e do acompanhamento dos exercícios espirituais. Além disso, o padre Rupnik foi proibido de exercer atividades públicas sem a permissão de seu superior local”.
A nota dos jesuítas especifica: “Essas medidas ainda estão em vigor hoje, como medidas administrativas, mesmo depois da resposta do dicastério para a Doutrina da fé. A Companhia de Jesus leva em séria consideração toda denúncia contra um dos seus membros”, conclui a nota. “A missão da Companhia de Jesus é também uma missão de reconciliação. E queremos acolher a todas e a todos de forma aberta”.
Acusações consideradas suficientemente provadas
Os abusos nunca são citados expressamente, mas da nota transparece que, no quadro do acompanhamento espiritual (que, não por acaso, lhe é agora proibido), o Padre Rupnik é acusado de abusos contra uma ou mais pessoas adultas ("Não houve menores envolvidos"), que teriam ocorrido numa época bastante distante que os leva à prescrição, mas evidentemente foram considerados suficientemente comprovados para induzir a Companhia de Jesus a confirmar as medidas cautelares mesmo após a conclusão da investigação. Investigação decidida pelo Vaticano e realizada pelos jesuítas, por meio de um religioso não jesuíta que, entretanto, não representa o ponto final da história.
A visita à Eslovênia
Os abusos em questão – seriam abusos de consciência e, em alguns casos, abusos sexuais – teriam ocorrido na década de 1990 na Comunidade Loyola de Ljubljana, capital da Eslovênia. Comunidade feminina, de espiritualidade inaciana, fundada – conforme reconstrução da revista Left - por uma freira ligada ao padre Rupnik, Ivanka Hosta, onde o jesuíta, pelo menos no início, teria convivido. Comunidade onde hoje haveria muitas recriminações e desavenças.
Tanto que o Vaticano, pelo que se averiguou, enviou algum tempo atrás outro jesuíta, Daniele Libanori, bispo auxiliar de Roma, homem conhecido por sua firmeza, para realizar uma segunda investigação. Para esclarecer o presente e, provavelmente, o passado, estabelecer a verdade fazendo justiça, reconciliar os ânimos. Uma missão particularmente árdua porque a comunidade estaria dividida internamente entre religiosas que continuam a venerar a figura da fundadora e religiosas que a contestam. E, novamente, entre aquelas que acreditam nas acusações contra o padre Rupnik e aquelas que não acreditam. Libanori concluiu sua visita e entregou suas conclusões, estritamente confidenciais, aos escritórios vaticanos competentes, que agora terão que tomar as decisões apropriadas e esclarecer todo o caso.
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Caso Rupnik, a segunda investigação que pode esclarecer os abusos do jesuíta-pintor - Instituto Humanitas Unisinos - IHU